SpaceX ameaça imagens do telescópio espacial Hubble – Meio Bit

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SpaceX ameaça imagens do telescópio espacial Hubble – Meio Bit

Não é de hoje que radioastrônomos e institutos de pesquisa criticam satélites de órbita baixa (LEO), em especial os milhares ativos da StarLink, subsidiária da SpaceX do bilionário Elon Musk, por estes estarem “poluindo” o céu observável e atrapalhando pesquisas. Pois agora estes ganharam um aliado de peso, a NASA.

Em um artigo publicado recentemente na Nature, pesquisadores da agência espacial norte-americana apontam que, com a tendência de cada vez mais satélites de internet em órbita no futuro, boa parte das imagens capturadas por instrumentos de astronomia, mesmo os avançados como o Telescópio Espacial Hubble, acabarão “photobombadas” e inúteis para a Ciência.

NASA quer aproveitar ao máximo os últimos anos de serviço do Hubble (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

NASA não curte photobombing da StarLink

A StarLink começou a incomodar radioastrônomos já em 2021, quando haviam cerca de 1.800 satélites da companhia em operação, mas no cenário atual, com quase 9 mil em órbita (dados de novembro de 2025), mesmo os grandes institutos de astronomia não conseguem mais ignorar o problema; logo, não surpreende a NASA ter finalmente se posicionado a respeito.

Antes de mais nada, vamos entender o que acontece: até a StarLink e outras empresas proporem sistemas de comunicação e internet via satélite usando órbitas baixas, companhias como a Viasat ofereciam planos baseados em seus instrumentos geoestacionários, a 35.786 km de altitude, também conhecida como Órbita de Clarke.

A essa altitude, o satélite leva 24 horas para dar uma volta completa na Terra, e por causa disso, ele fica “fixo” em relação ao planeta, sempre sobre um mesmo ponto, por ambos girarem na mesma velocidade e no mesmo sentido.

Já satélites LEO operam em posições bem mais baixas: os da StarLink, por exemplo, se posicionam a 550 km de altitude, mas podem ser ajustados para bem menos, por volta de 350 km; as vantagens óbvias, a velocidade que o sinal de internet leva para trafegar é muito menor quando comparado a um geoestacionário, cuja latência gira entre 500 e 600 ms.

Uma conexão de internet da StarLink, por exemplo, permite jogar online, algo completamente impensável para clientes da Viasat e similares, para quem até mesmo assistir vídeos no YouTube a 240p é difícil.

Usando o Universe Sandbox, dá para ver bem a diferença entre as órbitas (Crédito: Reprodução/Giant Army)

Eis o problema: por estarem muito mais próximos da Terra e se moverem mais rápido, satélites LEO são capturados por telescópios e outros instrumentos em observações de longa exposição como rastros luminosos, diferente de um geoestacionário, que aparece nas imagens como um mero ponto. O resultado são fotos do Espaço com um ou vários photobombs (captura de elementos estranhos) dos rastros desses satélites.

A possibilidade de satélites LEO prejudicando a observação do Espaço foi apontada já em 2019, quando a StarLink lançou sua primeira carga de satélites de internet, o que foi minimizado pela empresa e seus defensores, citando os benefícios do serviço de internet como superiores à pesquisa astronômica, e lembrando com razão (ainda que em um cenário completamente diferente) que as luzes das cidades já interferem.

Só que com o passar dos anos o problema não só apareceu, como escalou fora de controle; segundo levantamento do CalTech, apenas um observatório em 2021 teve 18% das fotos invadidas por satélites da StarLink, o que as tornam inúteis para a pesquisa astronômica; um estudo mais recente revelou que um terço de toda a pesquisa radioastronômica já sofre interferência de constelações de satélites, e com empresas como a Amazon e outros governos, como a China, entrando no setor, a tendência é só piorar.

A SpaceX reconheceu o problema em 2023, e desde então Musk vem tentando remediar a situação, com resultados mistos e sem perder o foco de lançar mais satélites, claro.

Galáxia de Andrômeda, capturada pelo Zwicky Transient Facility (ZTF) em 19/05/2021; o rastro luminoso foi deixado por satélite da Starlink. A foto completa (clique para ver) mostra apenas 1/16 do campo de visão total do ZTF (Crédito: Caltech Optical Observatories/IPAC)

Agora a NASA entrou para reforçar o coro dos pesquisadores, e não pegou leve.

No estudo (cuidado, PDF), pesquisadores do Centro de Pesquisa Ames (ARC) rodaram simulações de como um cenário com dezenas de milhares de satélites LEO em órbita poderão obstruir a visão até mesmo dos telescópios mais potentes, como o Hubble e outros ainda a serem lançados, como o SPHEREx da própria NASA, o ARRAKIHS da Agência Espacial Europeia (ESA), e o Telescópio Espacial Xuntian, da China; todos operam ou operarão em órbita baixa.

Segundo o Dr. Alejandro Borlaff, astrofísico e líder do estudo, satélites de internet como os da StarLink podem bloquear o que ele chama de “observação por acaso”, por exemplo, uma estrela que explode em uma supernova sem aviso; o rastro luminoso na imagem obstruiria o fenômeno, e a informação seria “perdida para sempre”, segundo o pesquisador.

As simulações rodadas pelo time não foram nada gentis: considerando a evolução do mercado de megaconstelações, cerca de 96% das imagens captadas pelo SPHEREx, ARRAKIHS e Xuntian seeriam inutilizadas, enquanto o Hubble teria 40% de suas observações afetadas, o que não é um alento se lembrarmos que ele já está no fim de sua vida útil.

Apenas telescópios dedicados à observação do espaço profundo, como o James Webb, não seriam afetados.

Simulações da NASA de como observações dos telescópios Hubble, SPHEREx, Xuntian e ARRAKIHS serão afetados por satélites LEO (Crédito: Ames Research Center/NASA)

O estudo sugere algumas alternativas para mitigar o problema, por exemplo, o posicionamento de telescópios espaciais em órbitas mais altas, o desenvolvimento de satélites LEO mais escuros e menos reflexivos, o que cria outro problema, aumento de calor e maior emissão de luz infravermelha, e a coordenação entre institutos de pesquisa e companhias como SpaceX e Amazon, para que os satélites LEO não entrem no campo de visão de telescópios quando estes estiverem realizando observações de longa exposição.

Borlaff defende que deve haver uma coexistência entre pesquisa e serviços de internet, de modo que um não atrapalhe outro, mas até o momento, o governo dos EUA não moveu uma palha nesse sentido; ao invés disso, a FCC (Comissão Federal de Comunicações, órgão equivalente à Anatel) propôs uma desregulação das megaconstelações, a pedido das companhias.

Referências bibliográficas

BORLAFF, A. S., MARCUM, P. M., HOWELL, S. B. Satellite megaconstellations will threaten space-based astronomy. Nature, Edição 648 (2025), 24 páginas, 3 de dezembro de 2025.

DOI: 10.1038/s41586-025-09759-5

Fonte: NPR

Fonte: Tecmundo, Olhar Digital, MeioBit

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